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sexta-feira, 1 de março de 2013

Centenárias dão dicas sobre como chegar bem aos 100 anos


 Foto: Getty Images



Segundo estimativas, um quarto de todas as crianças nascidas hoje na Grã-Bretanha deverá ultrapassar os cem anos de idade. A projeção é um reflexo de estatísticas recentes que revelam uma 'explosão demográfica' no grupo dos centenários em todo o mundo.

Segundo essas projeções, o número de pessoas com 100 anos de idade ou mais aumentará 15 vezes até 2050, passando de 145 mil em 1999 para 2,2 milhões em 2050. No Brasil, os centenários eram 13,8 mil em 1991. Segundo dados do último censo, realizado em 2010, são cerca de 30 mil pessoas.

Se chegar aos 100 anos será cada vez mais comum, o obstáculo é alcançar um século de vida com saúde. ABBC ouviu as 'receitas' de vida de alguns centenários e comparou suas experiências a teorias científicas sobre a longevidade.

Espírito filantrópico
Aos 102 anos de idade, Nora Hardwick posou nua como Miss Novembro para um calendário de uma entidade beneficente. "Eles não conseguiram mulheres suficientes para os 12 meses", ela conta. "Tudo foi feito com muito bom gosto. Eu usei um lenço de tule rosa para esconder as partes estratégicas".

Nascida em novembro de 1905, Nora Hardwick dedicou sua vida à comunidade onde vive, trabalhando para o correio do vilarejo de Ancaster, no condado de Lincolnshire, no norte da Inglaterra. Como membro da prefeitura local, ajudou a angariar fundos para comprar áreas de lazer para as crianças da região. Na opinião dela, seu estilo de vida filantrópico ajudou a preservar sua vida.

Estudos indicam que índices de mortalidade diminuem entre os que colocam os interesses dos outros antes dos seus. A teoria é que dar alguma coisa a alguém pode gerar um sentimento de propósito e de valor próprio, resultando no chamado "êxtase de quem ajuda" - uma sensação física resultante da liberação de endorfinas após um ato de bondade ou generosidade. Alguns especialistas dizem que esses sentimentos podem reduzir o estresse, promover o bem-estar e fortalecer o sistema imunológico.

Álcool e vida longa
Muitos centenários dizem ser partidários de um trago ocasional. E, de fato, já houve estudos científicos associando saúde e longevidade ao consumo moderado de álcool. Um famoso centenário britânico que gostava de um Martini era o comediante - e fumante de cigarrilhas- George Burns, que morreu aos cem anos. "Basta um drinque para eu ficar bêbado", ele brincava. "O problema é que nunca me lembro se estou no décimo-terceiro ou décimo-quarto".

Mas no que diz respeito ao consumo do álcool e a longevidade, não parece haver consenso entre especialistas. E, de acordo com dados divulgados em março pelo Sistema Nacional de Saúde britânico (NHS na sigla em inglês), mortes por doenças do fígado na Inglaterra atingiram índices recordes.

Teorias científicas tendem a se concentrar nas mudanças físicas que podemos fazer no nosso estilo de vida para evitar doenças associadas à idade e aumentar nossa expectativa de vida. Entre elas, fazer exercícios regularmente e manter uma dieta saudável, rica em vitaminas e minerais.

Alguns estudos, por exemplo, afirmam que uma dieta com poucas calorias pode aumentar a expectativa de vida de uma pessoa em até 25 anos. Não existe, no entanto, uma teoria que agregue os estudos sobre o assunto e ofereça aos especialistas a fórmula definitiva da longevidade. "A ciência está intrigada, ainda não entendemos o que produz um centenário porque todos eles são únicos", diz Tim Spector, especialista em envelhecimento da Kings College University, em Londres.

Otimismo
Para alguns dos que conseguiram ultrapassar a barreira dos cem, o segredo de envelhecer com sucesso não é algo tangível como comer cinco porções de legumes e frutas por dia, recomendação comum na Grã-Bretanha. "Minha irmã gêmea era um tipo pessimista, ela morreu antes de fazer 70 anos porque nunca ria, nunca. Mas rir é uma coisa linda", diz Alice Herz-Sommer, que tem 108 anos.

"Sou uma otimista, para mim, apenas as coisas boas, nunca os pensamentos ruins", ela diz. Nascida em 1903, Herz-Sommer conseguiu manter uma atitude positiva apesar de um começo de vida terrível. Ela é a mais idosa sobrevivente do Holocausto, ficou presa no campo de concentração de Terezin (também conhecido como Theresienstadt), perto de Praga, com o filho pequeno, Raphael.

Ela sobreviveu tocando piano em concertos dentro dos campos de concentração. O marido morreu na Alemanha, no campo de concentração de Belsen. "Na minha opinião, músicos são pessoas privilegiadas. (A música) leva você, na primeira nota, a um outro mundo, não um mundo com supermercados, e não com dinheiro, um mundo com paz e beleza", ela diz.

O especialista em envelhecimento Spector vê uma certa dose de verdade no argumento de Herz-Sommer em favor da calma interior e do otimismo. No seu novo livro, Identically Different, Spector concentra sua atenção na epigenética: ciência que estuda como o meio-ambiente e as decisões que você toma podem ter impacto sobre seu código genético.

Mesmo em gêmeos univitelinos (ou idênticos), que compartilham o mesmo DNA, pequenas alterações na criação ou em sua atitude têm o potencial de alterar seu caminho genético. "O que estamos descobrindo em nossos experimentos com gêmeos é que uma pequena diferença pode ter grande impacto sobre eles, e há evidências de que pessoas levemente otimistas vivem mais do que pessimistas".

Spector diz que a diferença na forma como uma pessoa vê uma mesma situação pode ter um impacto nos genes que agem no seu cérebro, o que, por sua vez, pode alterar certas substâncias químicas e influenciar os índices de estresse. Tudo isso pode, potencialmente, ter um efeito sobre a saúde e longevidade - diz o especialista.

Um estudo publicado em 2011 na revista científica Applied Psychology: Health and Wellbeing parece confirmar essa teoria, dizendo que pessoas que pensam positivo são mais felizes e que pessoas felizes vivem mais tempo.

Vida ativa
Peggy Hovell, com cem anos, é positiva a ponto de não sentir qualquer medo. Seu plano de saltar de paraquedas, já nonagenária, como parte de um evento beneficente, foi abandonado em virtude de conselhos médicos. "Eles disseram que se eu saltasse minha retina iria provavelmente se romper e eu ficaria cega".

Em vez de diminuir o ritmo à medida que envelhece, Hovell está aumentando a velocidade. "Adoro dirigir e gosto de dirigir rápido", diz a centenária que durante a Segunda Guerra Mundial dirigia uma caminhonete para fazer entregas de mantimentos.

Esse não é o comportamento que você esperaria de uma mulher de idade avançada, mas um teste de motorista feito quando ela completou 96 anos provou que os reflexos de Peggy Hovell estavam tão aguçados quanto os de um motorista 40 anos mais jovem. Sua força de vontade e motivação podem ajudar a explicar sua longevidade, diz Spector. "Se você tem a força de vontade para fazer coisas, você tem uma visão otimista, de que não vai se machucar", ele diz.

O pessimista, no entanto, vai pensar que, se fizer aquilo, corre o risco de quebrar a perna e, portanto, vai ficar em casa o dia inteiro, explica. E a ciência já demontrou que um estilo de vida ativo é vital quando se trata de viver uma vida longa e saudável, ele lembra.

Uma característica que muitos centenários parecem compartilhar é o desejo de continuar vivendo. Nina Jackson, de 103 anos, desafia a velhice. "Não me sinto nem um pouco diferente, algumas vezes sinto como se tivesse 50, às vezes até mais jovem", diz. Seu conselho a todos os pretendentes a centenários é: Adapte-se às mudanças e não fique preso no passado.


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